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sábado, 5 de abril de 2014

Rainha morta e rei nu. Que venha a Copa


   Texto e foto de Valéria del Cueto

Tempo bom, tempo ruim. E cada tempo é um tempo, apesar de parecer que ele, o tempo, está cada vez mais curto.
Tudo é pouco e acontece mais rápido, especialmente o que não é nada. Seria tranquilo se o que hoje é mínimo não pudesse virar um demais daqui a pouco. Não temos a menor noção das consequências de nossos atos porque, por mais que se projete o amanhã, não sabemos o que tantas insignificâncias juntas podem fazer com o nosso futuro.
Parece complicado, mas é simples. Filosofia de crônica em cima do laço. Se assim não for, corre-se o risco de, em vez de chover no molhado os pingos de “sabedoria” semanais se perderem numa enxurrada qualquer, entre o dia de redação e a publicação do texto. E é aquilo, haja cuidado ao emitir opiniões. Até por que estamos mergulhados em tempos de Denorex, onde o que parece, nunca não é. E, quando é, alguém está levando algum.
Por exemplo, por aqui todo mundo sabia dos atrasos que estavam e iam acontecer nas obras da Copa do Mundo. Também era voz corrente as cachoeiras e cascatas de dinheiro que seriam desperdiçadas, a corrupção, a má qualidade dos serviços... Qual é a novidade?
Nenhuma, a não ser o fato que tem muita gente incomodada com as opiniões externas sobre nossa gente bronzeada e a capacidade intrínseca que temos de tropeçar em nossas próprias pernas e fazermos, de um paraíso na terra, um verdadeiro inferno de Dante. O bonde passou, o sino tocou e lá estávamos nós deixando escorrer como areia entre os dedos, a chance de fazermos pelo menos direitinho o dever de casa.
Enquanto alguns muitos se indignam com o que dizem a nosso respeito e tentam desesperadamente não vestir a carapuça, antes de colocarem na cabeça o chapéu de burro da reprovação automática,  jogando como sempre a culpa nos outros que são eles mesmos, vamos fazendo nosso papel de palhaços incompetentes e corruptos.
Mas que droga, o que falta para entenderem que tudo que sobe desce, tudo que enche esvazia e tudo o que vive morre? Por que essa necessidade de ganhar e acumular para si, quando a Dona História, grande mestra da civilização, já está cansada de ensinar que o único fator de crescimento e evolução viável é a doação para o coletivo?
Por falar em doação, uma pauta interessante: se as obras que não serão da Copa já estão enterradas junto com Ines de Castro, a de Dom Pedro I, filho do rei de Portugal, Afonso IV, cantada em versos de Camões, que também estava morta, como ficam as imensas verbas liberadas sob a égide do RDC, o Regime Diferenciado de Contratações de Obras Públicas?
E já querendo botar lenha na fogueira, quem se habilita a verificar quais foram os contratos firmados e/ou pagos entre a morte da Inês e seu famoso e fúnebre beija-mão? Ou seja, quando todo mundo já sabia que ia dar M-E-R-D-A, mas fazia de conta que o rei estava todo paramentado mesmo desfilando só de capacete nuzinho em pelo pelas obras prometidas com sua “roupa” nova imaginária?
Além de não conhecer a História da Civilização, esse povo também não teve infância. Nunca ouviu falar em “A Roupa Nova do Imperador”, conto de fadas do dinamarquês Hans Christian Andersen.
Pensando bem, e mesmo que tivessem ouvido que diferença faria? Agora não dá para mudar nada. Só resta a eles ficarem desfilando com seus narizes de palhaços, a cara-de-pau de sempre e segurar o tranco que vem por aí.
Os próximos meses não serão nada fáceis...


Nossa mulher no Rio é Valéria del Cueto, jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “Parador Cuiabano”,  do SEM FIM...