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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Por que é que eu preciso pagar pela Marcha Para Jesus?

(O texto abaixo mandei para ser publicado em um jornal local aqui em Canoas. Não publicaram.)



Defendo e celebro a liberdade que todo o cidadão brasileiro tem de ter e professar a sua crença, seja qual for, desde que não atente contra a minha liberdade individual.
Enquanto escrevo talvez já se inicie a concentração de evangélicos para a Marcha Para Jesus que ocorrerá na tarde deste sábado, dia 10 de dezembro.

Estava dando de ombros para o evento até ler, no panfleto de divulgação, que a marcha conta com o apoio da Prefeitura de Canoas.

A partir daí eu começo a me sentir invadido. Pois se o cidadão tem garantido por Lei a livre manifestação da sua fé, é importante lembrar também que o Estado é laico, ou seja, não tem nem professa religião alguma. E se a prefeitura de uma cidade brasileira figura na lista dos apoiadores desta marcha evangélica, tenho toda a legitimidade para questionar se o meu dinheiro está fomentando o acontecimento. 
Se o estado não tem religião, significa que ele mantém as portas abertas para que todo cidadão tenha livre manifestação da sua fé. Mas cuidado, há uma diferença abissal entre garantir esta liberdade ao cidadão e dar dinheiro público para que ele a manifeste. 

Um é a característica de uma sociedade livre e democrática, outro é a característica de um favorecimento a um grupo religioso em particular. Tenho sérias dúvidas se o prefeito, por exemplo, garantiria apoio, seja moral ou financeiro, a uma religião com menos adeptos que a evangélica como o judaísmo em uma "marcha para Israel" ou islamismo em uma provável "marcha para Maomé". Da mesma forma duvido que a prefeitura desse os mesmos holofotes para um manifesto secular em prol do pensamento crítico da parte dos em que nada acreditam.

Ademais, por que a prefeitura apoiaria financeiramente uma marcha dessas uma vez que igrejas e templos sequer pagam impostos, e todos nós sabemos que qualquer empreendimento que abra na velocidade em que abrem-se novos templos neo-pentecostais significa tudo menos escassez de fundos?

E mesmo se não houver um centavo da prefeitura no evento, acho extremamente desnecessário que ela coloque o seu logo no panfleto como um dos apoiadores. 

O Brasil ainda não entendeu que quanto mais distância garantirmos entre Igreja e Estado, mais livre e democrática será a nossa sociedade. 

2 comentários:

L. Duran disse...

Sendo o advogado do diabo (que é deus, no caso, enfim): Será que o apoio da prefeitura na organização do trânsito e na sinalização do evento, por exemplo, não é recomendável?
Claro que os organizadores tem que reembolsar o gasto do município. Ou, no mínimo, a prefeitura não cobra de ninguém e podemos fazer marcha da macumba, da cachaça, do suvaco cabeludo...

Paraguaçú Schneidermann disse...

Espero que sim, mas pelo visto foi mais que isso. Direto se ouvia nos alto-falantes gritos de apoio ao prefeito. O palco dos shows gospel foi ao lado da prefeitura.