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terça-feira, 2 de junho de 2009

Microcontos depressivos

Laura comia uma maçã e achava tudo uma merda. Por que diabos ela tinha que estar naquela hora em frente a um hospital? Ela não conhecia o moribundo, nunca falara com ele. E no entanto, ele a chamara. Ela deveria ouvir suas útlimas e derradeiras palavras. Ligaram para sua casa. Imploraram que ela fosse satisfazer o último desejo do paciente. E ela, mais por tédio do que por qualquer outra coisa, resolveu ir. Ou a porta do hospital, ou o frio de umas férias que ela preferia ter tirado em janeiro. Mas não existe férias no verão para os recém contratados. Já trabalhava naquele setor há 3 anos. Mas era recém contratada.

Ela não esperava que, na porta do hospital, o frio fosse tanto que ela preferisse estar no tédio de sua casa. Bufou. Terminou de comer a maçã e entrou no prédio acinzentado. Falou com a moça da recepção, que chamou uma enfermeira para acompanhá-la até o quarto do semimorto. Ela se deparou com um homem de cinquenta e poucos anos, com olhos claros e penetrantes e um nariz aquilino. Seria lindo se não estivesse carcomido pela doença. Câncer de pulmão, explicou a enfermeira. E ele nunca fumou na vida.

Quem tu é. Sou um amigo da tua mãe. Minha mãe me deixou faz tempo. Sim, eu sei, prometi que cuidaria de ti. Como assim. Ela me pediu antes de morrer, mas tu já percebeu que eu demorei pra cumprir a promessa. Não entendo nada do que tu tá falando, mas tu pode ver que eu não tenho cara de quem foi bem cuidada ultimamente. Tua cara está ótima. Gentileza tua. Não, tu é linda, puxou a tua mãe, no mau humor inclusive. Por que eu estou aqui. Porque resolvi cumprir minha promessa. Agora parece não adiantar mais. Meu filho único morreu, não tenho herdeiro, é tudo teu. Não entendo. Em breve tu vai entender, meu advogado te procura e te explica tudo.

Ela se despediu sem entender nada. Chorou. Não pensou muito na herança que ganharia. O hospital era de primeiro mundo, aquele homem precisaria de grana para bancar. Mas Laura não pensou nisso. E seguiu chorando e pensando que preferia ter o cuidado de alguém. Ela se cobriu com um edredon esperando o tempo passar.

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